quarta-feira, 8 de junho de 2016

O neoPT e a universidade 'light' - Fritz Utzeri - JB 13.10.2008

Fritz Utzeri - JB  13.10.2008

O neoPT e a universidade 'light' 

Vem aí a ''reforma universitária'' made in Banco Mundial, mais uma novidade do governo de ''esquerda'' do neoPT. A reforma, destinada a transformar profundamente o nosso ensino superior, dando prioridade ao setor privado e visando formar integradores e montadores de ''caixas pretas'', põe em segundo plano a formação criativa, a inteligência e a pesquisa, aumentando ainda mais a nossa dependência científica e tecnológica.

A universidade seria transformada numa espécie de ''escola técnica'' de nível superior (?), ligada às empresas, o que em princípio não seria mau, não fosse o fato de que a quase totalidade das companhias que agregam tecnologia, existentes no Brasil, são controladas por matrizes no exterior e praticamente nenhuma delas tem interesse em estimular a pesquisa local. (Sei do que falo. Fui diretor de uma multinacional do setor de telecomunicações.) Nosso destino é sermos ''maquiadores'', como os mexicanos, e a pesquisa que gera patentes, divisas e poder estará cada vez mais longe de nós.

O que não dá pra entender é a conversão do neoPT e de seu deslumbrado líder em campeões do neoliberalismo e alienação da soberania nacional. Em matéria de traição, Joaquim Silvério dos Reis pode ser considerado um homem leal quando comparado aos integrantes do neoPT, com exceção de Henrique Meirelles, que sempre esteve do lado do grande capital especulativo internacional e é hoje um dos grandes ''companheiros'' desse verdadeiro Cavalo de Tróia que é o atual (des)governo.

Volto à aula do professor Weber Figueiredo, da Uerj, para explicar um pouco mais os riscos da ''reforma'' defendida pelo neoPT: ''Infelizmente, o Brasil é muito dependente da tecnologia externa. Quando fabricamos bens com alta tecnologia, fazemos apenas a parte final da produção. O Brasil produz 5 milhões de televisores por ano e nenhum brasileiro projeta televisor. O miolo da TV, do telefone celular e de todos os aparelhos eletrônicos, é todo importado. Somos meros montadores. Casos semelhantes ocorrem na indústria mecânica, de remédios e até na de alimentos. O Brasil entra com mão-de-obra barata e recursos naturais. Os projetos, a tecnologia, o chamado pulo do gato, ficam no estrangeiro, com os verdadeiros donos do negócio. Resta-nos lidar com as caixas pretas.

A dependência científica e tecnológica acarretou a dependência econômica, política e cultural. Não podemos admitir a continuação da situação esdrúxula, onde 70% do PIB brasileiro é controlado por não residentes. Ninguém pode progredir entregando o seu talão de cheques e a chave de sua casa para o vizinho fazer o que bem entender. Tenho a convicção que desenvolvimento científico e tecnológico, aqui no Brasil, garantirá aos brasileiros a soberania das decisões econômicas, políticas e culturais. Garantirá trocas mais justas no comércio exterior e a criação de mais e melhores empregos. E, se a produção de riquezas for bem distribuída, teremos a erradicação dos graves problemas sociais.

O que me revolta, como professor cidadão, é ver que decisões políticas tomadas por pessoas despreparadas ou corruptas são responsáveis pela queima e destruição de inteligências que poderiam, com o conhecimento apropriado, transformar o Brasil num país florescente, próspero e socialmente justo. Acredito que o mundo ideal seja globalizado, mas uma globalização que inclua a democratização das decisões e a distribuição justa do trabalho e das riquezas. Infelizmente, isto ainda está longe de acontecer. Assim, quem pensa que a solução para os nossos problemas virá de fora, está muito enganado.

O dia em que um presidente da República, ao invés de ficar passeando como um dândi por palácios do primeiro mundo, resolver liderar um autêntico projeto de desenvolvimento nacional, certamente o Brasil vai precisar, em todas as áreas, de pessoas bem preparadas. Só assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar decisões que beneficiem a sociedade brasileira. Será a construção de um Brasil realmente moderno, mais justo, inserido de forma soberana na economia mundial e não um reles fornecedor de recursos naturais e mão-de-obra aviltada.'' 

Mais um... 

Depois de Job Lorena de Santana, promovido a general por mentir, inventar e forjar um IPM, mais um oficial indigno dos galões volta ao noticiário. Trata-se do general médico Ricardo Fayad, que ganhou na Justiça (?) o direito de exercer a profissão que lhe fora cassada pelo Conselho Federal de Medicina. Ele avaliava os torturados e decidia se o suplício continuaria ou não. Fez isso até com colegas de turma, como o médico Luis Roberto Tenório. Fayad disse a seus beleguins do porão para continuarem a bater e seviciar, apesar de Tenório já estar com o tímpano perfurado. Torturadores não deveriam merecer anistia. Tortura é crime contra a humanidade.

Riquezas Para Todos - 12.12.12

Este trabalho traz sugestões simples de políticas que visam à construção de um Brasil rico, sem pobreza, com pão e riquezas para todos!
12.12.12
Weber Figueiredo (*)


A importância do conhecimento na produção de riquezas


Em palavras simples, podemos dizer que ciência é o estudo de como a natureza funciona e tecnologia é o conhecimento que transforma a natureza em riqueza. Tecnologia é uma ferramenta intelectual de transformação. Tecnologia é conhecimento oriundo do cérebro das pessoas.

Riquezas, neste contexto, não são jóias nem supérfluos. Riquezas são os bens e serviços que o homem precisa para viver com um mínimo de dignidade.

Riquezas são produtos para o bem da humanidade.

Exemplos: alimentos, moradias, remédios, roupas, livros, trens, tratores, insumos para saneamento, máquinas, aparelhos médicos, equipamentos de telecomunicações, aviões, computadores, filmes etc.

Não podemos confundir técnica, que normalmente é um conjunto de instruções, com tecnologia, que é um conhecimento mais profundo capaz de gerar um produto ou serviço. Tecnologia não é produto pronto. Quando o Brasil importa, por exemplo, um computador (e todos são importados) a tecnologia de fabricação do aparelho não vem para o Brasil, o que vem são as técnicas de operação. A expressão “transferência de tecnologia” é quase sempre usada de forma errada, pois se refere apenas à “transferência de técnicas”.

Tecnologia é conhecimento. Tecnologia, tal qual maturidade, não se transfere. Tecnologia se conquista através do estudo e da pesquisa.

A alta tecnologia está cada vez mais dependente do conhecimento científico puro e do cálculo matemático, o qual quantifica o que já existe e prevê a existência de coisas ainda desconhecidas.

Tecnologia para o bem, desenvolvimento sustentável


Semelhante a uma faca, a tecnologia é um conhecimento que pode ser usado para o bem ou para o mal. A decisão é do homem.

Toda fabricação de produtos agride a natureza, sem exceção. O grande desafio dos tempos atuais é usar o conhecimento científico e tecnológico para gerar riquezas com o mínimo desgaste do ambiente natural, de modo a não exaurir a natureza de forma irreversível, possibilitando que esta e as próximas gerações possam utilizá-la na sua plenitude possível. A isso chamamos de desenvolvimento sustentável.

Condenamos o uso da tecnologia para fabricar produtos para o mal. Condenamos o consumismo fútil como estilo de vida. Condenamos o descartável inútil. Condenamos o uso da tecnologia para dominação. Defendemos o uso do conhecimento científico e tecnológico para o enriquecimento intelectual, cultural e material do ser humano. Defendemos o uso de tecnologias limpas, que menos agridam o planeta.

Pobreza, riqueza e salários


Riqueza vem de rico, pobreza vem de pobre. País pobre é aquele que não consegue produzir riquezas para todos. Naturalmente, se conseguisse, não seria pobre, seria rico.

A única forma de haver distribuição de boa renda é quando a produção de riquezas industriais e agrícolas do país é pujante, autônoma, e destinada ao bem estar do seu povo e não para, preponderantemente, evadir divisas através de exportações que pagam importações e juros explodidos artificialmente.

Programas sociais são soluções humanitárias corretas e imediatas para quem tem com fome, mas só a produção autônoma de riquezas pode acabar com os chamados problemas sociais de forma perene, os quais, na realidade, são problemas de falta de riquezas distribuídas para todos. Na economia todos os fatores estão interligados. Só a produção de riquezas pode exterminar a criminalidade e o desemprego além de permitir universalizar o saneamento básico, a assistência médica e outros serviços públicos com qualidade para todos os brasileiros.

Salários são proporcionais à produção de riquezas. Fome e pobreza só podem ser erradicadas de forma perene através da produção e distribuição de riquezas para todos.
Não existe outro caminho.

É claro que a corrupção, o desperdício, a manipulação da moeda internacional de trocas, a exploração do povo via sistema financeiro e a evasão de divisas através de artifícios legais e ilegais têm que ser combatidos com rigor, sem ruptura da produção industrial e sistema de transportes que abastece o país.

A maldição da abundância


A maldição da abundância é quando o país possui muitos recursos naturais e quer se tornar rico sem produzir riquezas, simplesmente trocando o que extrai da natureza (petróleo, matérias primas, soja etc., com pouca transformação) por bens industrializados importados de alto valor agregado.

O modelo de dependência que exporta predominantemente coisas comuns (commodities) em troca de bens industrializados, gera, aqui, menos empregos e maus empregos, comparados com aqueles gerados nos países industrializados.

Pior ainda, esse processo de só ficar trocando "banana" por "conhecimento" solapa a riqueza intelectual do povo destruindo a sua capacidade criativa e inovadora em áreas estratégicas. A maldição da abundância é semelhante ao inchamento dos músculos de uma pessoa por efeito de anabolizantes. Passado seu efeito, os músculos voltam a murchar.

Países atrasados exploram a natureza o quanto podem para trocá-la pelas delícias que o mundo industrializado oferece: eletrônicos, automóveis, aviões, fármacos, máquinas etc.

A natureza é a moeda de troca dos países dependentes.

Este é o processo do menor esforço, da preguiça, onde o país dependente até desenvolve alta tecnologia para explorar a natureza, mas quase nada desenvolve para transformá-la em riqueza.

Tecnologia e poder econômico


No mundo onde vivemos, quem domina a alta tecnologia tem o poder das decisões econômicas e a primazia dos melhores lucros. O exemplo vem de dois sistemas econômicos ricos e distintos: Estados Unidos e China, ambos dominam os projetos de engenharia necessários à produção de riquezas.

Estudos mostram que mais de 70% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro é controlado por não residentes no Brasil.

É muito difícil progredirmos com tal dependência a qual inviabiliza a soberania política e econômica. Alguém pode ter tranquilidade entregando a chave da sua casa e o cartão de crédito para o vizinho administrar, por melhor que ele seja?

O capital estrangeiro até cria empregos de mão de obra no Brasil, mas não desenvolve tecnologia aqui. Não o fazem por maldade, apenas não tem sentido comercial as transnacionais repetirem as suas pesquisas no Brasil, exceto aquelas complementares, porque tudo já foi pesquisado e desenvolvido nas suas matrizes no exterior. Mesmo que as transnacionais desenvolvessem tecnologia aqui, os lucros com a venda dos produtos seriam apropriados pelos donos dos negócios, fora do Brasil, naturalmente.

Produzir, ou melhor, reproduzir riquezas com base na dependência, conforme vimos fazendo em tantas eras de comodismo, não requer estudos mais profundos nem um sistema educacional de qualidade, ao menos na área tecnológica, é algo do tipo: siga bem as instruções e aperte os botões corretos. Com o advento da automação industrial (necessária, registre-se) isso ficou cada vez mais evidente. Por exemplo, importar robôs para indústria suprime empregos tanto na base, os trabalhadores, quanto no topo, os projetistas. O melhor seria o Brasil também produzir robôs industriais porque criaria empregos na base e na ponta.

Tecnologia e Soberania Nacional


A dependência tecnológica é a causa primária do endividamento externo brasileiro, da evasão de divisas e da falta de soberania política que impede o governo de tomar decisões que contrariariam os grandes capitais. Caso o governo enfrente aqueles dos quais dependemos, pode haver o risco de o país sofrer boicote tecnológico, causando paralisação na indústria, transportes, telecomunicações, desabastecimento e caos social.

A dependência tecnológica transfere diariamente para os países desenvolvidos postos de trabalho que deveriam ficar no Brasil, causando aqui desemprego e fome.

A dependência sempre cria mais e melhores empregos nos países industrializados do que naqueles dependentes.

Quando po Brasil passar a produzir bens e serviços com domínio da tecnologia, isto é, com o domínio do ciclo completo de conhecimentos que transforma a natureza em riqueza, estaremos diminuindo a dependência econômica e política e criando MAIS e MELHORES empregos no Brasil. Estaremos, também, evoluindo em conhecimentos, em todos os níveis, porque isso exige uma educação de qualidade e a formação de profissionais comprometidos com o aprendizado das Ciências da Natureza - Física, Química, Biologia etc. - da Matemática, da Engenharia e outras áreas do saber, trazendo benefícios em todo o sistema de educação, a começar pelo ensino fundamental.

Não existe possibilidade física de se elevar o nível de renda do povo se não for através da produção de riquezas. O modelo de dependência é, por sua natureza, um modelo gerador de pobreza.

A soberania de um país não está associada apenas à soberania territorial. Soberania significa autonomia de decisões políticas e econômicas e estas estão interligadas com o setor produtivo e, por consequência, ao capital financeiro. Dinheiro é apenas um papel pintado. O valor de uma moeda é reflexo da produção do país.

O Brasil só poderá ser soberano e desenvolvido se for dono de grandes indústrias que produzam bens e serviços com o domínio da tecnologia. Em outras palavras, isso significa ter o controle tanto das empresas quanto dos projetos de engenharia, porque é a partir desses projetos que se especifica toda a cadeia produtiva, desde os insumos básicos até a comecialização e utilização do produto final.

Um bom exemplo brasileiro era a Embraer, que sendo a detentora do projeto de engenharia do avião decidia de onde importar as suas partes. Essa é uma diferença entre autonomia e dependência. A Embraer dependia dos fornecedores, mas tinha autonomia para decidir quanto ao melhor preço e melhor fornecedor.

Produzir riquezas com conhecimento tecnológico desenvolvido no País, estimula o estudo, a criatividade e alimenta a auto-estima que falta à maioria dos brasileiros.

Auto-estima é dar-se conta dos próprios valores, é ter confiança em si próprio. Um povo que não exercita a sua criatividade quer nas artes, na literatura, nas ciências ou na tecnologia é um povo adormecido na sua intelectualidade.

Produzir riquezas com o conhecimento desenvolvido na nossa terra é uma oportunidade para valorizarmos a nossa cultura, desde os hábitos de consumo até as manifestações artísticas. O desenvolvimento das artes, da literatura e da cultura em geral está associado à capacidade do país em dar condições materiais dignas para que o seu povo, incluindo artistas, escritores, cientistas e intelectuais, desenvolvam a plenitude de suas criações.

Desenvolver tecnologias é também desenvolver tecnologias apropriadas à realidade brasileira. São tecnologias ajustadas à nossa cultura, ao nosso clima, à nossa economia e apropriadas ao melhor aproveitamento dos nossos recursos naturais. Tecnologias apropriadas são tecnologias inteligentes, sob medida, de melhor custo/beneficio.

O que vai induzir a real melhoria na qualidade de ensino no Brasil, desde o maternal até o pós-doutorado, não são necessariamente os exames de avaliação aplicados pelo governo, mas sim a procura do setor produtivo autônomo por pessoas mais qualificadas, em todas as áreas.

Uma sociedade que vive da importação de bens industrializados de alto valor agregado, às custas da exportação de suas coisas comuns (“commodities”) fica estagnada no saber, não evolui, gera menos empregos, gera maus empregos. Fica uma sociedade enfraquecida, dependente, com classes sociais voltadas apenas para ver vitrines e vontade de consumir, sem estar comprometida com o ciclo virtuoso da produção de riquezas associada ao conhecimento.

Resumindo: desenvolver tecnologia para gerar riquezas diminui a dependência, fortalece a soberania política e econômica e desenvolve o país. Mas todo esse processo está associado ao estudo, à pesquisa e ao domínio do conhecimento que transforma natureza em riqueza.

Alta escala de produção, grandes empresas, grandes negócios


O desenvolvimento tecnológico no Brasil só faz sentido se houver indústrias brasileiras que absorvam essa tecnologia. Como os investimentos em pesquisas são elevados, o natural é que a produção de riquezas resultante desses estudos seja de alta escala, em outras palavras, é necessário que o Brasil seja dono de grandes indústrias de capital nacional.

É evidente que precisamos estimular e financiar os arranjos produtivos locais, as pequenas e médias empresas, mas essa propaganda na TV que fala apenas em "pequenas empresas, grandes negócios" é uma meia-verdade. O lógico é ir mais além, acrescentando, "grandes empresas, grandes negócios." Se houver dúvida, olhe para os países de alto índice de desenvolvimento humano e veja que todos eles têm grandes empresas genuinamente nacionais. No Brasil, a exceção é a Petrobras.

Colimar os vetores de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)


A maioria das pesquisas no Brasil é fruto de boas iniciativas individuais. Embora importantes, elas não estão inseridas num plano nacional de desenvolvimento porque que não existe uma política de estado que integre educação, ciência, tecnologia e indústria.

Uma política industrial consequente deve criar condições para que as pesquisas aplicadas fiquem comprometidas com a produção da indústria de capital nacional. Isso é hábito comum nos países do chamado primeiro mundo. No Brasil, boa parte das pesquisas são semelhantes a muitos vetores de qualidade porém apontados em direções diferentes. A resultante vetorial dessas forças aleatórias é pífia quando o objetivo é a produção de riquezas.

Caberia ao governo federal aplicar uma espécie de “campo externo” para colimar (direcionar) os vetores P&D - Pesquisa e Desenvolvimento - no sentido de gerar bens para o bem da sociedade. Isso se faz, primeiramente, com a definição de quais riquezas o Brasil deve produzir com tecnologia nacional.
Logo após, o governo deve estimular e investir na criação de grandes empresas nacionais para produzir riquezas em escala. O Brasil não possui, por exemplo, indústria nacional automobilística, de televisores, de remédios e de lâmpadas eletrônicas. Implantá-las, com o domínio da tecnologia e do capital, já seria um bom começo. Simultaneamente, devem-se criar mecanismos para que o sistema educacional fique comprometido e sintonizado com o desenvolvimento, sinônimo de crescimento econômico para o bem estar de todos.


As pesquisas científicas puras devem ser ampliadas e estimuladas, até porque elas formam o suporte para as pesquisas aplicadas. Por exemplo, 30% do PIB dos EUA, que corresponde a cerca de 8 vezes o PIB do Brasil, deve-se a microeletrônica que tem origem na Física Quântica, um ramo da ciência desenvolvido há cem anos por Planck, Einstein, Schrödinger, dentre outros, quando nem se sonhava com a sua aplicação industrial na eletrônica (computadores, telefonia, automação, internet etc.).

Quanto ao campo, o Brasil já dispõe de bons centros de pesquisas alinhados com a produção agropecuária uma vez que esta é a mola mestre do nosso modelo econômico exportador.

Integrar as Políticas Industrial de C&T e Educacional


Embora haja boas iniciativas em alguns ministérios do governo federal, no Brasil não existe uma política de desenvolvimento integrada. Uma política de desenvolvimento, sinônimo de crescimento econômico sustentável, nunca poderá envolver apenas um ministério. E.g., no mundo acadêmico, regulado pelos Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia, um dos critérios de avaliação dos cursos, docentes e pesquisadores é a publicação de artigos (excelentes) mas cuja maioria não tem aplicação prática no Brasil porque o nosso parque industrial é fortemente desnacionalizado e dispensa esses estudos.

  
QUALQUER TENTATIVA DE DESENVOLVIMENTO QUE NÃO INTEGRE TODO O CICLO DO CONHECIMENTO ESTARÁ FADADA AO FRACASSO.

O Governo Federal deve, pois, estabelecer uma Política Nacional de Desenvolvimento (PND) que unifique a Política Industrial, a Política de Ciência e Tecnologia e a Política Educacional.

Por que unificar?

Porque todas elas têm um denominador comum que é o CONHECIMENTO, cuja gênesis se processa na cabeça de cada criança.

Internet, objetos e fábricas de aprendizagem


É preciso também integrar a Política de Comunicações, para que a TV e a internet sejam, além do entretenimento, ferramentas de elevação intelectual do povo brasileiro. A internet disponibiliza gratuitamente milhares de "objetos de aprendizagem" (vídeos didáticos) sobre assuntos que vão desde a montagem de um motor de carro até a computação quântica.

O Governo deve fomentar a tradução e geração de bons conteúdos virtuais de aprendizagem e estimular crianças e jovens a assisti-los. Deve implantar "fábricas de aprendizagem" reais em todas as instituições tecnológicas de ensino, onde estudantes e pesquisadores possam desenvolver projetos que gerem protótipos de produtos tangíveis. Isso enriquece o aprendizado, a inovação e estimula a auto-confiança que falta a muitos dos brasileiros.

Boas instituições no mundo, a exemplo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), têm "fábricas de aprendizagem" e também geram "objetos de aprendizagem". O Ministério de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Índia, e.g., dedica-se à produção de milhares de vídeoaulas divulgadas na internet. Veja o National Programme on Thechnology Enhanced Learning, http://nptel.iitm.ac.in/

Projetos de Engenharia do tipo “1 para milhões” ou “1 para 1 para milhões”


Afinal, que riquezas o Brasil deve produzir com tecnologia nacional?

O Brasil deve produzir riquezas cujo projeto de engenharia desenvolvido aqui, preferencialmente, gere milhões de produtos ou beneficie milhões de pessoas. Isso se justifica porque em alta tecnologia os investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento (P&D) são elevados e a produção em alta escala amortiza esses investimentos rapidamente. Não é à toa que as empresas transnacionais estão sempre interessadas na fabricação de produtos em alta escala, onde um único projeto gera milhões de produtos.

São exemplos de 1 projeto que gera milhões de produtos:

1 projeto de um veículo elétrico => gera milhões de veículos elétricos (o Brasil não projeta veículos, observe que todas as fábricas são transnacionais).
1 projeto de um antibiótico => gera bilhões de comprimidos (o Brasil não projeta nem antibióticos nem outros remédios, observe que quase todas as fábricas são transnacionais).
1 projeto de célula solar => gera milhões de geradores de energia (o Brasil não projeta células solares).
1 projeto de um equipamento escolar => gera milhões equipamentos escolares
1 projeto de trem de levitação magnética => gera milhares de vagões de trens para transportar milhões de pessoas (o Brasil não fabrica trens de levitação magnética, embora já haja um projeto nacional desenvolvido na UFRJ, o MagLev).
1 projeto de televisor => gera milhões de televisores e milhões de outros equipamentos eletrônicos úteis nas residências, hospitais e na indústria (o Brasil não projeta nem televisores nem outros aparelhos eletrônicos. Todos os computadores e celulares são importados).
1 projeto de uma lâmpada econômica doméstica => gera bilhões de lâmpadas para serem usadas em todas as residências do País (o Brasil não projeta nem fabrica lâmpadas eletrônicas, todas são importadas).
1 projeto de uma central de usinagem => gera milhares de centrais e milhões de produtos.


A seguir, citamos exemplos onde 1 projeto gera apenas 1 produto, mas este produto beneficia milhões de pessoas. Em geral, são projetos de Engenharia Civil onde o Brasil, felizmente, detém a tecnologia de projetos pois as transnacionais não se interessavam muito por este tipo de negócio (onde 1 projeto que gera apenas 1 produto):

1 projeto de 1 hidrelétrica => gera 1 produto que beneficia milhões de pessoas;
1 projeto de 1 ferrovia => gera 1 produto que beneficia milhões de pessoas;
1 projeto de 1 estádio => gera 1 produto que alegra milhões de pessoas;
1 projeto de 1 prédio escolar => gera 1 escola que beneficia milhares de crianças e também pode ser replicado em milhares de outras escolas;
1 projeto de 1 navio => gera 1 navio que transporta milhões de pessoas e mercadorias;

Cenoura à frente do coelho


A produção de riquezas com o projeto de engenharia desenvolvido no Brasil funcionaria como uma espécie de “cenoura à frente do coelho” forçando o desenvolvimento de outros projetos, serviços e milhares de produtos vinculados ao produto principal. Isso significa geração de mais e melhores empregos em todas as áreas, ou seja, aumento e distribuição de renda. A fabricação nacional de produtos com nossa tecnologia seria um grande indutor de pesquisas puras e aplicadas.

E os chineses? Não há como concorrer com eles!


Os chineses estão vendendo produtos com alta tecnologia a preços módicos, pelo menos por enquanto, porque em breve esse panorama vai mudar, quando os chineses "abrirem os olhos" e aumentarem o seu padrão de vida. O Brasil dispõe de muitos recursos naturais para continuar realizando trocas comerciais por produtos chineses com valor agregado, como sempre o fez com os Estados Unidos, Europa e Japão. Podemos, então, perguntar:

Para que implantar grandes indústrias brasileiras de tecnologia se os chineses e coreanos já tem as suas e nos vendem os produtos prontos e embalados? Resposta:

1º) Para evoluirmos em conhecimentos;
2º) Para que o Brasil seja rico, produzindo riquezas para o seu povo;
3º) Para se criar mais e melhores empregos, isto é, criar renda e erradicar a pobreza;
4º) Para que o Brasil seja menos dependente e mais soberano;
      e, finalmente, nessa linha de pergunta simplista, poderíamos responder com outra pergunta:
5º) Para que estudar se os chineses e americanos já estudaram também?

RESUMO - SUGESTÃO


Política de Estado de Desenvolvimento Econômico e Social

Gerar Pão e Riquezas Para Todos


1.  DEFINIR O RUMO
A primeira coisa a se fazer para implantação de uma política de estado de desenvolvimento é definir o rumo e onde queremos chegar. Queremos um Brasil rico ou queremos apenas remediar a pobreza? Rico significa criar riquezas para o bem de todos. Rico significa ser desenvolvido intelectualmente e materialmente, com distribuição justa das riquezas. Rico vai além de erradicação da pobreza. Rico significa elevar a Qualidade de Vida dos brasileiros.

2. DEFINIR BENS E SERVIÇOS COM TECNOLOGIA NACIONAL
Em seguida, definir que bens e serviços devem ser produzidos no Brasil com tecnologia nacional. Escolher as de menores impactos ambientais e de maiores benefício/custo. Neste caso, a avaliação do benefício/custo não pode ser apenas de caráter economicista, de curto prazo, mas, essencialmente, de maior aprendizado, enriquecimento e desenvolvimento humano do povo brasileiro.

3. IMPLANTAR INDÚSTRIAS NACIONAIS DE GRANDES NÚMEROS: AUTOMOBILÍSTICA, FÁRMACOS, ELETRÔNICOS, BENS DE CAPITAL ETC.
Além do estímulo e financiamento aos arranjos produtivos locais, às pequenas e médias empresas, o Brasil deve criar indústrias nacionais de grandes números, ou ampliar as indústrias (verdadeiramente) nacionais visando à produção em alta escala de bens e serviços com tecnologia desenvolvida no Brasil. Isso inclui as indústrias de bens de consumo (aquelas onde 1 projeto gera milhões de produtos), de bens de capital e as de geração de energia, preferencialmente limpas e renováveis. À medida que se diminui a dependência externa, temos que redirecionar a produção agropecuária, atualmente muito voltada para exportação, para atender com prioridade às necessidades de alimentação do povo brasileiro.

4. UNIFICAR POLÍTICAS E FINANCIAMENTOS
Unificar as políticas educacional, de ciência e tecnologia e industrial. Unificar os fundos financiadores de P&D e de capacitação de pessoal. Não se pode admitir o corporativismo onde cada fundo financia apenas a sua área. As prioridades de financiamento são nacionais e não setoriais.

5.  ESTIMULAR PESQUISAS APLICADAS - FÁBRICAS DE APRENDIZAGEM
Continuar financiando as pesquisas científicas, em todas as áreas, sem objetivos imediatos, mas estimular as pesquisas aplicadas na área tecnológica que visem à produção industrial de riquezas para todos em larga escala. Implantar em todas instituições de educação tecnológica "fábricas de aprendizagem" nas quais o aluno desenvolve a sua inventividade e se fortalece para empreender indústrias que gerem empregos e renda para o povo.

6.  VALORIZAR QUEM PROJETA E CONSTRÓI
Aperfeiçoar os critérios de avaliação das instituições de ensino e pesquisa valorizando também quem desenvolve projetos de produtos imediatamente úteis à sociedade. Toda fabricação em escala começa pelo protótipo e este, pelo projeto. Sem aprendizado e desenvolvimento tecnológico o país continuará subdesenvolvido.

7.  INSERIR A TV E A INTERNET NA EDUCAÇÃO DO POVO - OBJETOS DE APRENDIZAGEM
Dedicar horários nobres na TV aberta a programas edificantes. Usar a internet e outros meios para enriquecer o aprendizado em todos os níveis. Incentivar a geração e uso de "objetos de aprendizagem" nos quais o estudante aprende com mais rapidez e eficácia além de disseminar o conhecimento para milhões de pessoas. Estimular a educação criativa e libertadora em contraste com a educação estéril e subserviente.


No início do século passado, houve um presidente da república que adotava o lema "governar é abrir estradas". Embora a política de geração de riquezas deva ser uma política de estado e não de governo, podemos, nos tempos atuais, simplificar: "GOVERNAR É GERAR PÃO E RIQUEZAS, PARA TODOS", claro!

O governo federal deveria instituir, ao menos virtualmente, o Ministério do Desenvolvimento, sendo o(a) Presidente(a) da República o “ministro(a)”. Se não houver integração de políticas e cada ministério ficar administrando vaidades e jogos de poder isolados, o Brasil continuará como está, a maioria pobre.

É preciso haver um mutirão para o desenvolvimento (sustentável) começando no ensino fundamental de qualidade para todas as crianças brasileiras. Como dizia Leonel Brizola: “Não pode haver nação desenvolvida com o seu povo subdesenvolvido”.

Deve ficar claro que gerar riquezas para todos não pode ser uma política associada ao consumismo, ao egoísmo materialista; bem ao contrário, deve ser uma política visando a dar dignidade de vida para todos, acompanhada de valores civilizatórios, de estímulos à fraternidade, cuidados com os bens comuns, incluindo a natureza, e elevação moral e intelectual do povo brasileiro.


(*) Weber Figueiredo da Silva é engenheiro e doutor em Engenharia Elétrica. Foi presidente da SERLA, Superintendência Estadual de Rios e Lagoas, no Governo Brizola, RJ. Colaborou com Brizola, então candidato à Presidência da República, na elaboração de propostas para Políticas Industrial e de Ciência e Tecnologia. Foi vice-diretor da Faculdade de Engenharia da UERJ, onde lecionou durante 37 anos. Integrou, na qualidade de membro eleito, o Conselho Superior de Ensino e Pesquisa e o Conselho Universitário da UERJ. De 2013 a 09/2015 esteve Chefe do Departamento de Ensino Superior no CEFET-RJ. Este texto é de livre divulgação. weber@globo.com