Este trabalho traz sugestões simples de políticas que
visam à construção de um Brasil rico, sem pobreza, com pão e riquezas para todos!
12.12.12
Weber
Figueiredo (*)
A
importância do conhecimento na produção de riquezas
Em palavras
simples, podemos dizer que ciência é o estudo de como a natureza funciona e
tecnologia é o conhecimento que transforma a natureza em riqueza. Tecnologia é
uma ferramenta intelectual de transformação. Tecnologia é conhecimento oriundo
do cérebro das pessoas.
Riquezas,
neste contexto, não são jóias nem supérfluos. Riquezas são os
bens e serviços que o homem precisa para viver com um mínimo de dignidade.
Riquezas são produtos para o bem da humanidade.
Exemplos:
alimentos, moradias, remédios, roupas, livros, trens, tratores, insumos para
saneamento, máquinas, aparelhos médicos, equipamentos de telecomunicações,
aviões, computadores, filmes etc.
Não podemos confundir
técnica, que normalmente é um conjunto de instruções, com tecnologia, que é um
conhecimento mais profundo capaz de gerar um produto ou serviço. Tecnologia não
é produto pronto. Quando o Brasil importa, por exemplo, um computador (e todos
são importados) a tecnologia de fabricação do aparelho não vem para o Brasil, o
que vem são as técnicas de operação. A expressão “transferência de tecnologia”
é quase sempre usada de forma errada, pois se refere apenas à “transferência de
técnicas”.
Tecnologia é conhecimento. Tecnologia, tal qual
maturidade, não se transfere. Tecnologia se conquista através do estudo e da
pesquisa.
A alta tecnologia
está cada vez mais dependente do conhecimento científico puro e do cálculo
matemático, o qual quantifica o que já existe e prevê a existência de coisas
ainda desconhecidas.
Tecnologia
para o bem, desenvolvimento sustentável
Semelhante a
uma faca, a tecnologia é um conhecimento que pode ser usado para o bem ou para
o mal. A decisão é do homem.
Toda
fabricação de produtos agride a natureza, sem exceção. O grande desafio dos
tempos atuais é usar o conhecimento científico e tecnológico para gerar riquezas
com o mínimo desgaste do ambiente natural, de modo a não exaurir a natureza de
forma irreversível, possibilitando que esta e as próximas gerações possam
utilizá-la na sua plenitude possível. A isso chamamos de desenvolvimento
sustentável.
Condenamos o
uso da tecnologia para fabricar produtos para o mal. Condenamos o consumismo
fútil como estilo de vida. Condenamos o descartável inútil. Condenamos o uso da
tecnologia para dominação. Defendemos o uso do conhecimento científico e
tecnológico para o enriquecimento intelectual, cultural e material do ser
humano. Defendemos o uso de tecnologias limpas, que menos agridam o planeta.
Pobreza,
riqueza e salários
Riqueza vem de
rico, pobreza vem de pobre. País pobre é
aquele que não consegue produzir riquezas para todos. Naturalmente, se
conseguisse, não seria pobre, seria rico.
A única forma
de haver distribuição de boa renda é quando a produção de riquezas industriais
e agrícolas do país é pujante, autônoma, e destinada ao bem estar do seu povo e
não para, preponderantemente, evadir divisas através de exportações que pagam
importações e juros explodidos artificialmente.
Programas
sociais são soluções humanitárias corretas e imediatas para quem tem com fome,
mas só a produção autônoma de riquezas pode acabar com os chamados problemas
sociais de forma perene, os quais, na realidade, são problemas de falta de
riquezas distribuídas para todos. Na economia todos os fatores estão
interligados. Só a produção de riquezas pode exterminar a criminalidade e o
desemprego além de permitir universalizar o saneamento básico, a assistência
médica e outros serviços públicos com qualidade para todos os brasileiros.
Salários são proporcionais à produção de
riquezas. Fome e pobreza só podem ser erradicadas de forma perene através da
produção e distribuição de riquezas para todos.
Não existe outro caminho.
É claro que a
corrupção, o desperdício, a manipulação da moeda internacional de trocas, a
exploração do povo via sistema financeiro e a evasão de divisas através de artifícios
legais e ilegais têm que ser combatidos com rigor, sem ruptura da produção
industrial e sistema de transportes que abastece o país.
A
maldição da abundância
A maldição da
abundância é quando o país possui muitos recursos naturais e quer se tornar rico
sem produzir riquezas, simplesmente trocando o que extrai da natureza
(petróleo, matérias primas, soja etc., com pouca transformação) por bens
industrializados importados de alto valor agregado.
O modelo de dependência que exporta
predominantemente coisas comuns (commodities)
em troca de bens industrializados, gera, aqui, menos empregos e maus empregos,
comparados com aqueles gerados nos países industrializados.
Pior ainda,
esse processo de só ficar trocando "banana" por
"conhecimento" solapa a riqueza intelectual do povo destruindo a sua
capacidade criativa e inovadora em áreas estratégicas. A maldição da abundância
é semelhante ao inchamento dos músculos de uma pessoa por efeito de
anabolizantes. Passado seu efeito, os músculos voltam a murchar.
Países
atrasados exploram a natureza o quanto podem para trocá-la pelas delícias que o
mundo industrializado oferece: eletrônicos, automóveis, aviões, fármacos,
máquinas etc.
A natureza é a moeda de troca dos países
dependentes.
Este é o
processo do menor esforço, da preguiça, onde o país dependente até desenvolve
alta tecnologia para explorar a natureza, mas quase nada desenvolve para
transformá-la em riqueza.
Tecnologia e poder
econômico
No mundo onde
vivemos, quem domina a alta tecnologia tem o poder das decisões econômicas e a
primazia dos melhores lucros. O exemplo vem de dois sistemas econômicos ricos e
distintos: Estados Unidos e China, ambos dominam os projetos de
engenharia necessários à produção de riquezas.
Estudos mostram que mais de 70% do PIB (Produto
Interno Bruto) brasileiro é controlado por não residentes no Brasil.
É muito
difícil progredirmos com tal dependência a qual inviabiliza a soberania
política e econômica. Alguém pode ter tranquilidade entregando a chave da sua
casa e o cartão de crédito para o vizinho administrar, por melhor que ele seja?
O capital
estrangeiro até cria empregos de mão de obra no Brasil, mas não desenvolve
tecnologia aqui. Não o fazem por
maldade, apenas não tem sentido comercial as transnacionais repetirem as suas
pesquisas no Brasil, exceto aquelas complementares, porque tudo já foi
pesquisado e desenvolvido nas suas matrizes no exterior. Mesmo que as transnacionais
desenvolvessem tecnologia aqui, os lucros com a venda dos produtos seriam
apropriados pelos donos dos negócios, fora do Brasil, naturalmente.
Produzir, ou
melhor, reproduzir riquezas com base na dependência, conforme vimos fazendo em
tantas eras de comodismo, não requer estudos mais profundos nem um sistema
educacional de qualidade, ao menos na área tecnológica, é algo do tipo: siga bem as instruções e aperte os botões
corretos. Com o advento da automação industrial (necessária, registre-se)
isso ficou cada vez mais evidente. Por exemplo, importar robôs para indústria
suprime empregos tanto na base, os trabalhadores, quanto no topo, os
projetistas. O melhor seria o Brasil também produzir robôs industriais porque
criaria empregos na base e na ponta.
Tecnologia e Soberania Nacional
A dependência
tecnológica é a causa primária do endividamento externo brasileiro, da evasão
de divisas e da falta de soberania política que impede o governo de tomar
decisões que contrariariam os grandes capitais. Caso o governo enfrente aqueles
dos quais dependemos, pode haver o risco de o país sofrer boicote tecnológico,
causando paralisação na indústria, transportes, telecomunicações,
desabastecimento e caos social.
A dependência
tecnológica transfere diariamente para os países desenvolvidos postos de
trabalho que deveriam ficar no Brasil, causando aqui desemprego e fome.
A dependência sempre cria mais e melhores
empregos nos países industrializados do que naqueles dependentes.
Quando po
Brasil passar a produzir bens e serviços com domínio da tecnologia, isto é, com
o domínio do ciclo completo de conhecimentos que transforma a natureza em
riqueza, estaremos diminuindo a dependência econômica e política e criando MAIS
e MELHORES empregos no Brasil. Estaremos, também, evoluindo em conhecimentos, em todos os níveis, porque isso exige
uma educação de qualidade e a formação de profissionais comprometidos com o
aprendizado das Ciências da Natureza - Física, Química, Biologia etc. - da
Matemática, da Engenharia e outras áreas do saber, trazendo benefícios em todo
o sistema de educação, a começar pelo ensino fundamental.
Não existe possibilidade física de se elevar o
nível de renda do povo se não for através da produção de riquezas. O modelo de
dependência é, por sua natureza, um modelo gerador de pobreza.
A soberania de
um país não está associada apenas à soberania territorial. Soberania significa
autonomia de decisões políticas e econômicas e estas estão interligadas com o
setor produtivo e, por consequência, ao capital financeiro. Dinheiro é apenas
um papel pintado. O valor de uma moeda é reflexo da produção do país.
O Brasil só
poderá ser soberano e desenvolvido se for dono de grandes indústrias que
produzam bens e serviços com o domínio da tecnologia. Em outras palavras, isso
significa ter o controle tanto das empresas
quanto dos projetos de engenharia,
porque é a partir desses projetos que se especifica toda a cadeia produtiva,
desde os insumos básicos até a comecialização e utilização do produto final.
Um bom exemplo
brasileiro era a Embraer, que sendo a detentora do projeto de engenharia do
avião decidia de onde importar as suas partes. Essa é uma diferença entre
autonomia e dependência. A Embraer dependia dos fornecedores, mas tinha autonomia
para decidir quanto ao melhor preço e melhor fornecedor.
Produzir riquezas com conhecimento tecnológico
desenvolvido no País, estimula o estudo, a criatividade e alimenta a
auto-estima que falta à maioria dos brasileiros.
Auto-estima é
dar-se conta dos próprios valores, é ter confiança em si próprio. Um povo que
não exercita a sua criatividade quer nas artes, na literatura, nas ciências ou
na tecnologia é um povo adormecido na sua intelectualidade.
Produzir
riquezas com o conhecimento desenvolvido na nossa terra é uma oportunidade para
valorizarmos a nossa cultura, desde os hábitos de consumo até as manifestações
artísticas. O desenvolvimento das artes, da literatura e da cultura em geral
está associado à capacidade do país em dar condições materiais dignas para que
o seu povo, incluindo artistas, escritores, cientistas e intelectuais,
desenvolvam a plenitude de suas criações.
Desenvolver tecnologias é também desenvolver
tecnologias apropriadas à realidade brasileira. São tecnologias ajustadas à
nossa cultura, ao nosso clima, à nossa economia e apropriadas ao melhor
aproveitamento dos nossos recursos naturais. Tecnologias apropriadas são
tecnologias inteligentes, sob medida, de melhor custo/beneficio.
O que vai
induzir a real melhoria na qualidade de ensino no Brasil, desde o maternal até
o pós-doutorado, não são necessariamente os exames de avaliação aplicados pelo
governo, mas sim a procura do setor produtivo autônomo por pessoas mais
qualificadas, em todas as áreas.
Uma sociedade
que vive da importação de bens industrializados de alto valor agregado, às
custas da exportação de suas coisas comuns (“commodities”) fica estagnada no saber, não evolui, gera menos empregos,
gera maus empregos. Fica uma sociedade enfraquecida, dependente, com classes
sociais voltadas apenas para ver vitrines e vontade de consumir, sem estar
comprometida com o ciclo virtuoso da produção de riquezas associada ao
conhecimento.
Resumindo: desenvolver tecnologia para gerar
riquezas diminui a dependência, fortalece a soberania política e econômica e
desenvolve o país. Mas todo esse processo está associado ao estudo, à pesquisa
e ao domínio do conhecimento que transforma natureza em riqueza.
Alta
escala de produção, grandes empresas, grandes negócios
O
desenvolvimento tecnológico no Brasil só faz sentido se houver indústrias
brasileiras que absorvam essa tecnologia. Como os investimentos em pesquisas
são elevados, o natural é que a produção de riquezas resultante desses estudos
seja de alta escala, em outras
palavras, é necessário que o Brasil seja dono
de grandes indústrias de capital
nacional.
É evidente que
precisamos estimular e financiar os arranjos produtivos locais, as pequenas e
médias empresas, mas essa propaganda na TV que fala apenas em
"pequenas empresas, grandes negócios" é uma meia-verdade. O lógico é
ir mais além, acrescentando, "grandes empresas, grandes negócios." Se
houver dúvida, olhe para os países de alto índice de desenvolvimento humano e
veja que todos eles têm grandes empresas genuinamente nacionais. No Brasil, a
exceção é a Petrobras.
Colimar
os vetores de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
A maioria das
pesquisas no Brasil é fruto de boas iniciativas individuais. Embora
importantes, elas não estão inseridas num plano nacional de desenvolvimento
porque que não existe uma política
de estado que integre educação, ciência, tecnologia e indústria.
Uma política
industrial consequente deve criar condições para que as pesquisas aplicadas
fiquem comprometidas com a produção da indústria de capital nacional. Isso é
hábito comum nos países do chamado primeiro mundo. No Brasil, boa parte das
pesquisas são semelhantes a muitos vetores de qualidade porém apontados em
direções diferentes. A resultante vetorial dessas forças aleatórias é pífia
quando o objetivo é a produção de riquezas.
Caberia ao governo federal aplicar uma espécie de “campo externo”
para colimar (direcionar) os vetores P&D -
Pesquisa e Desenvolvimento - no sentido de gerar bens para o bem da sociedade.
Isso se faz, primeiramente, com a definição de quais riquezas o Brasil deve produzir
com tecnologia nacional.
Logo após, o
governo deve estimular e investir na criação de grandes empresas nacionais para
produzir riquezas em escala. O Brasil não
possui, por exemplo, indústria nacional automobilística, de televisores, de
remédios e de lâmpadas eletrônicas. Implantá-las, com o domínio da tecnologia e
do capital, já seria um bom começo. Simultaneamente, devem-se criar mecanismos
para que o sistema educacional fique comprometido e sintonizado com o
desenvolvimento, sinônimo de crescimento econômico para o bem estar de todos.
As pesquisas
científicas puras devem ser ampliadas e estimuladas, até porque elas formam o
suporte para as pesquisas aplicadas. Por exemplo, 30% do PIB
dos EUA, que corresponde a cerca de 8 vezes o PIB do Brasil, deve-se a
microeletrônica que tem origem na Física Quântica, um ramo da ciência desenvolvido há cem anos por Planck, Einstein, Schrödinger, dentre
outros, quando nem se sonhava com a sua aplicação industrial na eletrônica
(computadores, telefonia, automação, internet etc.).
Quanto ao
campo, o Brasil já dispõe de bons centros de pesquisas alinhados com a produção
agropecuária uma vez que esta é a mola mestre do nosso modelo econômico
exportador.
Integrar
as Políticas Industrial de C&T e Educacional
Embora haja
boas iniciativas em alguns ministérios do governo federal, no Brasil não existe
uma política de desenvolvimento integrada. Uma política de desenvolvimento,
sinônimo de crescimento econômico sustentável, nunca poderá envolver apenas um
ministério. E.g., no mundo acadêmico, regulado pelos Ministérios da Educação e
da Ciência e Tecnologia, um dos critérios de avaliação dos cursos, docentes e
pesquisadores é a publicação de artigos (excelentes) mas cuja maioria não tem
aplicação prática no Brasil porque o nosso parque industrial é fortemente
desnacionalizado e dispensa esses estudos.
QUALQUER TENTATIVA DE
DESENVOLVIMENTO QUE NÃO INTEGRE TODO O CICLO DO CONHECIMENTO ESTARÁ FADADA AO
FRACASSO.
O Governo
Federal deve, pois, estabelecer uma Política Nacional de Desenvolvimento (PND)
que unifique a Política Industrial, a Política de Ciência e Tecnologia e a
Política Educacional.
Por que unificar?
Porque todas
elas têm um denominador comum que é o CONHECIMENTO, cuja gênesis se processa na
cabeça de cada criança.
Internet, objetos e fábricas de aprendizagem
É preciso
também integrar a Política de Comunicações, para que a TV e a internet sejam,
além do entretenimento, ferramentas de elevação intelectual do povo brasileiro.
A internet disponibiliza gratuitamente milhares de "objetos de
aprendizagem" (vídeos didáticos) sobre assuntos que vão desde a montagem
de um motor de carro até a computação quântica.
O Governo deve
fomentar a tradução e geração de bons conteúdos virtuais de aprendizagem e
estimular crianças e jovens a assisti-los. Deve implantar "fábricas de
aprendizagem" reais em todas as instituições tecnológicas de ensino, onde
estudantes e pesquisadores possam desenvolver projetos que gerem protótipos de
produtos tangíveis. Isso enriquece o aprendizado, a inovação e estimula a
auto-confiança que falta a muitos dos brasileiros.
Boas instituições
no mundo, a exemplo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), têm
"fábricas de aprendizagem" e também geram "objetos de
aprendizagem". O Ministério de Desenvolvimento de Recursos Humanos da
Índia, e.g., dedica-se à produção de milhares de vídeoaulas divulgadas na
internet. Veja o National Programme on Thechnology Enhanced Learning, http://nptel.iitm.ac.in/
Projetos
de Engenharia do tipo “1 para milhões” ou “1 para 1 para milhões”
Afinal, que riquezas o Brasil deve produzir com
tecnologia nacional?
O Brasil deve
produzir riquezas cujo projeto de engenharia desenvolvido aqui,
preferencialmente, gere milhões de produtos ou beneficie milhões de pessoas.
Isso se justifica porque em alta tecnologia os investimentos realizados em pesquisa
e desenvolvimento (P&D) são elevados e a produção em alta escala amortiza
esses investimentos rapidamente. Não é à toa que as empresas transnacionais
estão sempre interessadas na fabricação de produtos em alta escala, onde um único
projeto gera milhões de produtos.
São exemplos
de 1 projeto que gera milhões de produtos:
1 projeto de
um veículo elétrico => gera milhões de veículos elétricos (o Brasil não projeta veículos, observe que todas as
fábricas são transnacionais).
1 projeto de
um antibiótico => gera bilhões de comprimidos (o
Brasil não projeta nem antibióticos nem outros remédios, observe que quase
todas as fábricas são transnacionais).
1 projeto de
célula solar => gera milhões de geradores de energia (o Brasil não projeta células solares).
1 projeto de um
equipamento escolar => gera milhões equipamentos escolares
1 projeto de
trem de levitação magnética => gera milhares de vagões de trens para
transportar milhões de pessoas (o Brasil não
fabrica trens de levitação magnética, embora já haja um projeto nacional
desenvolvido na UFRJ, o MagLev).
1 projeto de
televisor => gera milhões de televisores e milhões de outros equipamentos
eletrônicos úteis nas residências, hospitais e na indústria (o Brasil não projeta nem televisores nem outros
aparelhos eletrônicos. Todos os computadores e celulares são importados).
1 projeto de
uma lâmpada econômica doméstica => gera bilhões de lâmpadas para serem
usadas em todas as residências do País (o Brasil
não projeta nem fabrica lâmpadas eletrônicas, todas são importadas).
1 projeto de
uma central de usinagem => gera milhares de centrais e milhões de produtos.
A seguir,
citamos exemplos onde 1 projeto gera apenas 1 produto, mas este produto beneficia
milhões de pessoas. Em geral, são projetos de Engenharia Civil onde o Brasil,
felizmente, detém a tecnologia de projetos pois as transnacionais não se
interessavam muito por este tipo de negócio (onde 1 projeto que gera apenas 1
produto):
1 projeto de 1 hidrelétrica => gera 1 produto que beneficia
milhões de pessoas;
1 projeto de 1
ferrovia => gera 1 produto que beneficia milhões de pessoas;
1 projeto de 1
estádio => gera 1 produto que alegra milhões de pessoas;
1 projeto de 1
prédio escolar => gera 1 escola que beneficia milhares de crianças e também pode
ser replicado em milhares de outras escolas;
1 projeto de 1
navio => gera 1 navio que transporta milhões de pessoas e mercadorias;
Cenoura
à frente do coelho
A produção de
riquezas com o projeto de engenharia desenvolvido no Brasil funcionaria como
uma espécie de “cenoura à frente do coelho” forçando o desenvolvimento de
outros projetos, serviços e milhares de produtos vinculados ao produto
principal. Isso significa geração de
mais e melhores empregos em todas
as áreas, ou seja, aumento e distribuição de renda. A fabricação nacional de
produtos com nossa tecnologia seria um grande indutor de pesquisas puras e
aplicadas.
E
os chineses? Não há como concorrer com eles!
Os chineses
estão vendendo produtos com alta tecnologia a preços módicos, pelo menos por
enquanto, porque em breve esse panorama vai mudar, quando os chineses
"abrirem os olhos" e aumentarem o seu padrão de vida. O Brasil dispõe
de muitos recursos naturais para continuar realizando trocas comerciais por
produtos chineses com valor agregado, como sempre o fez com os Estados Unidos,
Europa e Japão. Podemos, então, perguntar:
Para que implantar
grandes indústrias brasileiras de tecnologia se os chineses e coreanos já tem
as suas e nos vendem os produtos prontos e embalados? Resposta:
1º)
Para evoluirmos em conhecimentos;
2º)
Para que o Brasil seja rico, produzindo riquezas para o seu povo;
3º)
Para se criar mais e melhores empregos, isto é, criar renda
e erradicar a pobreza;
4º)
Para que o Brasil seja menos dependente e mais soberano;
e, finalmente,
nessa linha de pergunta simplista, poderíamos responder com outra pergunta:
5º)
Para que estudar se os chineses e americanos já estudaram também?
RESUMO
- SUGESTÃO
Política
de Estado de Desenvolvimento Econômico e Social
Gerar Pão e Riquezas Para Todos
1. DEFINIR O RUMO
A
primeira coisa a se fazer para implantação de uma política de estado de
desenvolvimento é definir o rumo e onde queremos chegar. Queremos um Brasil
rico ou queremos apenas remediar a pobreza? Rico significa criar riquezas para
o bem de todos. Rico significa ser desenvolvido intelectualmente e
materialmente, com distribuição justa das riquezas. Rico vai além de
erradicação da pobreza. Rico significa elevar a Qualidade de Vida dos
brasileiros.
2. DEFINIR BENS E SERVIÇOS COM TECNOLOGIA NACIONAL
Em
seguida, definir que bens e serviços devem ser produzidos no Brasil com
tecnologia nacional. Escolher as de menores impactos ambientais e de maiores
benefício/custo. Neste caso, a avaliação do benefício/custo não pode ser apenas
de caráter economicista, de curto prazo, mas, essencialmente, de maior
aprendizado, enriquecimento e desenvolvimento humano do povo brasileiro.
3. IMPLANTAR INDÚSTRIAS NACIONAIS
DE GRANDES NÚMEROS: AUTOMOBILÍSTICA, FÁRMACOS, ELETRÔNICOS, BENS DE CAPITAL
ETC.
Além do
estímulo e financiamento aos arranjos produtivos locais, às pequenas e médias
empresas, o Brasil deve criar indústrias nacionais de grandes números, ou
ampliar as indústrias (verdadeiramente) nacionais visando à produção em alta
escala de bens e serviços com tecnologia desenvolvida no Brasil. Isso
inclui as indústrias de bens de consumo (aquelas onde 1 projeto gera milhões de
produtos), de bens de capital e as de geração de energia, preferencialmente
limpas e renováveis. À medida que se diminui a dependência externa, temos que
redirecionar a produção agropecuária, atualmente muito voltada para exportação,
para atender com prioridade às necessidades de alimentação do povo brasileiro.
4. UNIFICAR POLÍTICAS E FINANCIAMENTOS
Unificar
as políticas educacional, de ciência e tecnologia e industrial. Unificar os
fundos financiadores de P&D e de capacitação de pessoal. Não se pode
admitir o corporativismo onde cada fundo financia apenas a sua área. As
prioridades de financiamento são nacionais e não setoriais.
5. ESTIMULAR PESQUISAS APLICADAS - FÁBRICAS DE APRENDIZAGEM
Continuar
financiando as pesquisas científicas, em todas as áreas, sem objetivos
imediatos, mas estimular as pesquisas aplicadas na área tecnológica que visem à
produção industrial de riquezas para todos em larga escala. Implantar em todas
instituições de educação tecnológica "fábricas
de aprendizagem" nas quais o aluno desenvolve a sua inventividade e se
fortalece para empreender indústrias que gerem empregos e renda para o povo.
6. VALORIZAR QUEM PROJETA E CONSTRÓI
Aperfeiçoar
os critérios de avaliação das instituições de ensino e pesquisa valorizando
também quem desenvolve projetos de produtos imediatamente úteis à sociedade.
Toda fabricação em escala começa pelo protótipo e este, pelo projeto. Sem
aprendizado e desenvolvimento tecnológico o país continuará subdesenvolvido.
7. INSERIR A TV E A INTERNET NA EDUCAÇÃO DO POVO - OBJETOS DE
APRENDIZAGEM
Dedicar
horários nobres na TV aberta a programas edificantes. Usar a internet e outros
meios para enriquecer o aprendizado em todos os níveis. Incentivar a geração e
uso de "objetos de aprendizagem"
nos quais o estudante aprende com mais rapidez e eficácia além de disseminar o
conhecimento para milhões de pessoas. Estimular a educação criativa e
libertadora em contraste com a educação estéril e subserviente.
No início do século passado,
houve um presidente da república que adotava o lema "governar é abrir
estradas". Embora a política de geração de riquezas deva ser uma política
de estado e não de governo, podemos, nos tempos atuais, simplificar:
"GOVERNAR É GERAR PÃO E RIQUEZAS, PARA TODOS", claro!
O governo federal deveria instituir, ao menos
virtualmente, o Ministério do Desenvolvimento, sendo o(a) Presidente(a) da
República o “ministro(a)”. Se não houver integração de políticas e cada
ministério ficar administrando vaidades e jogos de poder isolados, o Brasil
continuará como está, a maioria pobre.
É preciso haver um mutirão para o
desenvolvimento (sustentável) começando no ensino fundamental de qualidade para
todas as crianças brasileiras. Como dizia Leonel Brizola: “Não pode haver nação desenvolvida com o seu povo subdesenvolvido”.
Deve ficar claro que gerar
riquezas para todos não pode ser uma política associada ao consumismo,
ao egoísmo materialista; bem ao contrário, deve ser uma política visando a dar
dignidade de vida para todos, acompanhada de valores civilizatórios, de
estímulos à fraternidade, cuidados com os bens comuns, incluindo a natureza, e
elevação moral e intelectual do povo brasileiro.
(*) Weber Figueiredo da Silva é engenheiro e
doutor em Engenharia Elétrica. Foi presidente da SERLA, Superintendência
Estadual de Rios e Lagoas, no Governo Brizola, RJ. Colaborou com Brizola, então
candidato à Presidência da República, na elaboração de propostas para Políticas
Industrial e de Ciência e Tecnologia. Foi vice-diretor da Faculdade de
Engenharia da UERJ, onde lecionou durante 37 anos. Integrou, na qualidade de
membro eleito, o Conselho Superior de Ensino e Pesquisa e o Conselho
Universitário da UERJ. De 2013 a 09/2015 esteve Chefe do Departamento de Ensino
Superior no CEFET-RJ. Este texto é de livre
divulgação. weber@globo.com